Para os pequenos, boitéis
A Coplacana, de Piracicaba, adere ao sistema a partir deste mês e passa a usar resíduos da cana para baixar os custos de confinamento dos associados
Texto Sebastião Nascimento
Fotos Fernanda Bernardino
"A Coplacana fez um bom trabalho para os associados, digno de uma cooperativa"
Wellington Casarin
Wellington Casarin, 27 anos, chegou a terminar a faculdade de Administração de Empresas e a receber oferta de trabalho em um banco. Não aceitou, preferindo retornar ao sítio São José, que fica a 18 quilômetros do centro de Piracicaba, interior de São Paulo, e dar continuidade ao projeto pecuário iniciado há décadas por seu pai. "O campo é meu lugar. As atividades estão em crescimento e meu pai precisa de nós por aqui. Tenho outro irmão que chegou a experimentar a vida na cidade, mas ele voltou e hoje toma conta de outra propriedade da família, onde cultivamos soja, milho, trigo feijão e laranja." Wellington casou-se com Grasiela, da mesma idade, e há seis meses nasceu Isabela, sua primeira filha. "As raízes estão se espalhando. Eu até entendo o êxodo rural, pois alguns são obrigados a partir, mas nosso caso foi diferente e tivemos oportunidade de viver todos por aqui, com projetos para o futuro e a alegria do meu pai e da minha mãe por nos ter ao redor."
Um dos projetos é confinar bois: 25 bezerros desmamados do sítio São José, então pesando 13 arrobas, foram programados para entrar no confinamento montado pela Coplacana - Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo, exclusivamente para os seus associados. Wellington já faz a cria e a recria a pasto e a área é apertada, 30 hectares - sendo que os 70 hectares restantes são cultivados com cana. O confinamento vai permitir que ele acrescente renda ao seu negócio em menor tempo e a custos facilitados. "A engorda intensiva veio a calhar na região, pois os pequenos e os médios produtores não tinham volume de gado para fechar. A Coplacana está fazendo um belo trabalho, digno de uma cooperativa."
Como Wellington, pequenos e médios pecuaristas de outras regiões do país encontram facilidades para confinar seus animais nos denominados "boitéis" - hotéis de bois - abertos por empresas e pela Coplacana. A experiência da Coplacana é a primeira feita por uma cooperativa brasileira. Segundo Kléver José Coral, superintendente da Coplacana, o objetivo do boitel é permitir que os cooperados diversifiquem suas atividades e possam utilizar a pecuária intensiva em sinergia com a produção de cana-de-açúcar. Kléver diz que a cooperativa investiu 700 mil reais na construção dos piquetes para abrigar a boiada. A estimativa é de terminar mil animais neste ano. "Com o sistema a meta é chegar a 2010 com 5 mil cabeças confinadas ao ano."
A Coplacana está desenvolvendo outras ações paralelas, como uma usina de leite e silos para milho e soja. Kléver explica que os resíduos serão utilizados na dieta dos animais para reduzir os custos de produção. O farelo de soja, por exemplo, resultante da fabricação do biodiesel, será transformado em ração pela fábrica da cooperativa e usado no confinamento. "O objetivo é chegar à auto-suficiência."
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